. IDENTIFICAÇÃO.
Urna funerária de José Estêvão
. AUTOR .
José Feliciano de Castilho [inscrição]
. DATA .
Século XIX
. DIMENSÕES .
49cm x 16.7cm x 16.7cm
. MATERIAL .
Mármore
. PROVENIÊNCIA .
Reserva do Museu da Cidade
Mais do que ser considerado uma personalidade ilustre de Aveiro, José Estêvão Coelho de Magalhães [1809-1862] encontra-se entre as grandes figuras do país. A sua eloquência e sentido de Estado aliados a uma aposta na defesa e valorização da sua terra natal justificam o lugar de destaque.
Defensor convicto do Liberalismo, viu-se obrigado deixar a universidade e a fugir para a Galiza e dali para Inglaterra, onde os liberais portugueses procuram reorganizar-se, após a vitória de D. Miguel em 1828. No ano seguinte embarca com as forças militares para os Açores, onde redige a Chronica da Terceira. Mais tarde, participa, activamente, na defesa da cidade do Porto. Como reconhecimento dos seus feitos, o Imperador D. Pedro condecora-o com o grau de Oficial da Torre e Espada.
Finda a guerra civil, em 1834, José Estêvão retorna os estudos em Coimbra. Por proposta de alguns amigos, substitui o pai no Parlamento tornando-se reconhecido como um tribuno notável, tanto eleito pelo círculo de Lisboa como de Aveiro. Algumas das suas intervenções ficariam, aliás, memoráveis na história do parlamentarismo português, motivo pelo qual lhe foi erigida uma estátua junto ao Palácio de São Bento. Demonstrou grande interesse pelas questões da sua região conseguindo obter empreendimentos e melhoramentos bastante significativos para o seu desenvolvimento como a construção de várias estradas; de um telégrafo eléctrico; edificação do liceu; obras na Barra e alguns consertos no cais e passagem da linha-férrea do norte pela cidade.
Além disso, ajudou a fundar o jornal O Tempo [1838] e foi também membro criador, juntamente com o seu conterrâneo Manuel Mendes Leite, em 1840, do Revolução de Setembro. A par da carreira militar, política e jornalística, acumulou, também, a de professor do ensino superior, tendo leccionado Economia Política, Direito Administrativo e Comercial, na Escola Politécnica de Lisboa. A partir de 1858 dedicou-se à Maçonaria dentro da qual veio a assumir o papel de Grão Mestre da Confederação Maçónica Portuguesa.
Com uma existência tão preenchida, José Estêvão seria alvo de reconhecimento, tanto na vida como na morte. O cortejo fúnebre de trasladação dos seus restos mortais para Aveiro, em 1864, seria um acontecimento de relevo assinalando a verdadeira inauguração da estação de caminhos-de-ferro que, devido ao seu contributo, se instalara na cidade da Ria.
A sua paixão e amor pelos seus ideais e pelas pessoas que o rodeavam guiaram sempre a sua acção. Por isso, aquando da sua morte, a esposa, D. Rita de Moura Miranda, mandou guardar o seu coração numa urna, levando-o, depois, consigo para a sepultura. A referida urna, em mármore negro, ostenta gravado um epitáfio escrito por José Feliciano de Castilho: “Viúvas a Eloquência, a Pátria e a Esposa / Choram a alma egrégia aos Céus volvida. / Ganhou a eternidade em curta vida. / Aqui, de amar, seu coração repousa”.
Como homem de confrontos directos que era, digladiava-se com os seus pares nas Cortes recorrendo à força das palavras como arma.
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