quinta-feira, 3 de março de 2011



Museu Arte Nova

Introdução

O movimento Arte Nova surgiu cerca de 1880 e foi impulsionado por uma conjuntura política, social e económica aparentemente estável e propícia. A industrialização, bem como as várias conquistas ao nível do progresso científico e técnico, encontram-se na génese deste estilo, pois conduziram à criação de riqueza e ao desenvolvimento de novos estratos sociais. Foram os burgueses enriquecidos e a recém-nascida classe média os verdadeiros impulsionadores do movimento, no sentido em que não se reviam e identificavam com o design dos objectos do dia-a-dia, bem como com os ideais arquitectónicos que até então vigoravam e que se baseavam na reinterpretação de velhos estilos, nomeadamente o estilo clássico, gótico, renascentista, barroco... Uma sociedade e um mundo em rápida mutação carecem de um estilo que dê  forma à sua nova aparência e ideal e, neste sentido, a Arte Nova foi o primeiro estilo a, aparentemente, não radicar no passado, não se inserindo, portanto, no conceito do revivalismo.

A Arte Nova expandiu-se com uma rapidez considerável e assumiu diferentes cunhos individuais, abarcando várias escolas regionais ou nacionais e recebendo diferentes designações, conforme o local de implantação e desenvolvimento. Contudo, convém salvaguardar a existência de princípios unificadores que a identificam e que dão coerência ao movimento, salientando-se a inovação formal conjugada com a originalidade, mas também a rejeição dos estilos formais, o recurso a novas técnicas de produção e a novos materiais (como o ferro e o vidro), explorados tanto de forma estrutural, como decorativa e a adopção de uma nova linguagem estética que se expressava através da linha extensa, curva, sinuosa, em chicotada e através dos motivos florais, vegetalistas e femininos estilizados, bem como sensuais.


Museu Arte Nova (sito na Casa Mário Belmonte Pessoa)

Trata-se de um imóvel de planta longitudinal, com cobertura em telhado de duas águas. A fachada é marcada pela sua verticalidade, acentuada pela mansarda com arco japonês. É precisamente a decoração inscrita, no geral, nos elementos estruturais da fachada, que confere a relevância ao edifício e o transforma num exemplar de qualidade da arquitectura e decoração de cariz Arte Nova da cidade. O tratamento dado às cantarias, em calcário e mármore, apresenta uma grande variedade de elementos ornamentais Arte Nova, gosto reflectido nos motivos vegetalistas e zoomórficos, bem como em todo o movimento imposto pelas formas curvilíneas dos arcos, das varandas e varandins, das molduras das portas e janelas, em madeira, e da serralharia artística em ferro forjado.
O piso térreo é marcado por três vãos, sendo o central de maior dimensão e assentando, cada um deles, em colunas independentes com capitéis decorados com motivos florais. A entrada situa-se num plano recuado formando um pequeno átrio encerrado pelas colunas e pelo gradeamento em ferro. Nela é notório o discurso Arte Nova patente na forma de arco abatido, demonstrando a presença da famosa linha em chicotada. Painéis de azulejo com motivos zoomórficos e vegetalistas, revestem as paredes laterais.
O piso intermédio apresenta três vãos, correspondentes a três portadas duplas e respectivas varandas. Em termos decorativos recorre-se ao aparelho rusticado para definir as molduras, rematadas com lintel em arco abatido, onde se inscrevem motivos de carácter vegetalista (molduras laterais) e um grande pássaro (moldura central). A serralharia artística das varandas volta a evidenciar os elementos florais.
No que concerne ao piso superior todo ele se encontra preenchido por vãos de janelas, em número de cinco, mas de dimensões desiguais, alternam arcos abatidos com arcos de volta perfeita. As suas molduras destacam-se da fachada concedendo-lhe maior exuberância, acentuada pelas guardas em cantaria e serralharia artística, formando uma espécie de varandim corrido. O remate deste piso volta a revelar decoração de cariz vegetalista sobre os vãos laterais, erguendo-se uma imponente mansarda sobre a janela central. Ostentando um arco japonês protegido com guarda em serralharia artística e com caixilho em madeira de formas curvas, a moldura da mansarda apresenta uma profusão decorativa que volta a repetir motivos florais e vegetalistas. A casa Mário Belmonte Pessoa é coroada por uma águia dominando uma serpente assentes sobre um globo.
O alçado posterior, voltado à Praça do Peixe, embora mais sóbrio, mantém a mesma linguagem ganhando maior ênfase nos pormenores azulejares de remate e nos painéis que decoram o pequeno mirante e a torre.
Tal como a fachada, o alçado posterior revela a decoração distinta em cada um dos seus pisos. Ao nível da cobertura surge uma portada central com varandim semicircular em ferro (corresponderá ao piso da mansarda da fachada). Sobre esta portada inscreve-se um relevo representando um leão. O piso superior apresenta uma abertura de forma semicircular compreendendo uma portada central e duas frestas de vidraça em quarto de círculo. A parte cega do semicírculo ostenta decoração de motivos vegetalistas que emolduram a portada e a varanda, uma vez mais, em cantaria artística.
O piso intermédio acha-se todo preenchido por vãos com portadas que abrem sobre uma varanda corrida com acesso exterior através de uma escadaria em ferro. Nos intervalos  dos vãos, de lintéis em arco com pequenos apontamentos decorativos, surgem vários óculos circulares. Um outro óculo de moldura lavrada abre-se na pequena torre que se desenha no lado direito do alçado.
No piso inferior destaca-se a entrada envidraçada em arco abatido. O gosto Arte Nova encontra-se bem patente nas serpenteantes linhas dos caixilhos dos vidros.
Ao fundo do jardim murado surge um pequeno mirante coberto a telha de canudo de cor verde esmalte. Revestem-no vários painéis de azulejos da fábrica da Fonte Nova, bem como azulejos relevados de cor verde água. Um dos painéis apresenta figuras femininas de longas cabeleiras onduladas, um elemento característico da Arte Nova. A entrada para este jardim é feita por portão em serralharia decorado com motivos florais que se repetem no gradeamento.


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